sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Jerzy Grotowski




Por Catarina Doolan




11 de agosto de 1933 — 14 de janeiro de 1999

A ROTA DE GROTOWSKY

Jerzy Grotowski nasceu na Polônia em 1933, na cidade de Rzeszów. Aos seis anos sua família se separa devido à Segunda Guerra Mundial, seu pai vai para a Inglaterra, servir como oficial no exército polonês, sua mãe foge com ele e seu irmão para a casa de seu tio arcebispo, em Nienadówka. Lá eles se refugiaram dos nazistas e Grotowsky se iniciou na vida espiritual que orientaria toda sua carreira artística.

Em 1955, Gratowsky se formou em interpretação na Escola de Teatro de Cracóvia e em seguida em Direção no (GITIS) Instituto Lunacharsky de Artes Teatrais, Moscou. Lá ele fica até 1956, recebendo influências de Stanislavski, Vakhtangov, Meyerhold e Tairov, retornando então para a Polônia.

Grotowski mudou-se para Opole em 1958 onde assumiu a direção do Teatro das 13 Fileiras. Local onde ele organizou um conjunto de atores e colaboradores artísticos que iriam ajudá-lo no desenvolvimento de sua visão artística. Entre as muitas produções as mais famosas foram "Orfeu" de Jean Cocteau, "Shakuntala" inspirado no texto de Kalidasa, "Dziady" de Adam Mickiewicz e "Akropolis" de Stanislaw Wyspianski. Esta última foi a primeira realização completa de sua formulação de 'teatro pobre'. Nela a companhia de atores, representando prisioneiros de um campo de concentração, construiu a estrutura de um crematório em volta da platéia, enquanto representavam histórias da bíblia. Esta concepção teve particular ressonância para o público de Opole, já que o campo de concentração de Auschwitz se localiza apenas a cerca de cem quilômetros de distância. "Akropolis" foi uma peça que chamou muito a atenção e praticamente o lançou internacionalmente.



Em 1964 ele deu seqüência a seu sucesso com a estréia de "A Trágica História de Doutor Faustus". Além do uso de poucos objetos na cena, Grotowski orientou os atores a representarem diferentes objetos. Numa cena, onde o papa está presente num jantar, um ator representava a sua cadeira e outro a comida.


Acrópolis




Porém, no ano seguinte, ele muda para a companhia Teatro Laboratório e produz, em 1967, o que foi considerada uma das mais importantes encenações do século XX em “O Príncipe Constante”.

 "O Príncipe Constante"
Sua última produção profissional como diretor foi em 1969. "Apocalypsis Cum Figuris" é também reconhecida como uma da melhores produções teatrais do século XX. Novamente utilizando textos da bíblia, esta produção é reconhecida pelos membros da companhia como um exemplo típico da interpretação total por ele almejada. Durante o processo de ensaio, que durou três anos, Grotowski abandona as convenções do teatro tradicional e se envereda pelos caminhos de investigação do ritual.


AS FASES DE GROTOWSKY

Grotowski é referência constante para estudiosos da prática e teoria do teatro do século XX. Ao longo de sua trajetória, enquanto pesquisador e diretor teatral, explorou fundamentalmente o lugar do ator enquanto criador, dando continuidade às pesquisas de Constantin Stanislavski. É notável em seus trabalhos uma constante confrontação entre homem e mitologia, numa espécie de busca espiritual.

Grotowski tem uma trajetória marcada por fases:

  • Arte como Representação (1958 a 1969): diz respeito à fase dos espetáculos Fausto e Acrópoles.
  • Parateatro (1970 a 1979) para alguns filósofos contemporâneos significa a simulação da vida – em grego significa algo que está ao lado, mas que não é mais teatro – os atores buscavam um encontro essencial para isso utilizavam o canto e a dança.
  • Teatro das fontes (1979 a 1982): volta ao trabalho individual, retorno as idéias de Stanislavski, sobretudo no que diz respeito ao trabalho sobre si mesmo. Aquilo que o ator pode fazer a partir da sua solidão.
  • O Período Californiano serviu como embrião para a Fase da Arte Como Veículo, neste caso, a palavra veículo tem a ver com o que se faz e não com quem assiste.

Em sua última fase de trabalho Grotowski conceitua o ator como um fazedor ou autor. Um ator que produzia as próprias ações por meio de habilidades diversas, tais como o canto, a dança, a produção de uma dramaturgia corporal e pessoal. Esse fazedor solicitava outras possibilidades expressivas, o que difere da estrutura até então vigente, em que a estrutura do trabalho de ator encontrava-se ligada a procedimentos próprios de conservatório, os quais privilegiavam sobremaneira o uso do texto como ponto de partida.




O TEATRO POBRE

Para o dramaturgo, “o teatro é o encontro do espectador com o ator”, de forma que isso justificava a invasão do ator para dentro do espaço reservado à platéia, fazendo do público, uma peça chave para os dramas encenados.

O pobre em seu teatro significa eliminar tudo que é desnecessário, deixando um ator ou atriz vulnerável e sem qualquer artifício. Na Polônia, seus espetáculos eram representados num espaço pequeno, com as paredes pintadas de preto, com atores apenas com vestimentas simples, muitas das vezes toda em preto.



Seu processo de ensaio desenvolvia exercícios que levavam ao pleno controle de seus corpos para desenvolver um espetáculo que não deveria ter nada supérfluo, também sem luzes e efeitos de som, contrariando o cenário tradicional, sem uma área delimitada para a representação. 



                 
De acordo com artigo “O performer” publicado na revista Máscara, Grotowski utiliza a seguinte figura simbólica do pontiflex para definir o performer: para ele, o performer é aquele que faz pontes ou aquele que, através da sua arte, instaura a possibilidade de um encontro potencializado com a vida, deslocando as fronteiras entre a arte e a vida. Este vínculo se dá por meio do próprio corpo do ator, isto é, de sua estrutura física e também por meio da voz, para então chegar à sua trajetória de vida, ou seja, sua memória.




 



“O Performer, com letra maiúscula, é o homem da ação. Não é o homem que faz a parte do outro. É o dançante, o sacerdote, ele é guerreiro: está fora dos gêneros estéticos”. (GROTOWSKI, 1993, p. 78)

OBRAS
No livro Em busca de um Teatro Pobre (1968), Grotowski afirma que o teatro não deveria, porque não poderia, competir contra o espetáculo cinematográfico e deveria se concentrar em sua principal qualidade, os atores que se apresentam a frente dos espectadores. 



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Jaqueline Valdívia Pereira. JERZY GROTOWSKI: O ator-performer – aproximações com o Teatro Essencial de Denise Stoklos. Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Curitiba, 2008-2009
http://insurretosfuriososdesgovernados.blogspot.com
http://www.desvendandoteatro.com/grandesnomes.html

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