O problema da participação do público no evento teatral já era colocado e com muita perspicácia, pelo arquiteto e teatrólogo alemão George Fuchs. A seu ver, “o valor artístico é recriado cada vez que é experimentado”. Isto, no teatro, torna-se particularmente sensível devido à natureza do espetáculo que se desfaz e refaz no próprio fazer-se, realizando-se na sucessividade temporal que “desrealiza” as concreções e encarnações espaciais do universo fictício apresentado. Ora, tal operação, pela qual se constitui o “teatro” à medida que se instauram com realidades imaginárias, atos e ocorrências “reais” no palco, exige necessariamente, para efetivar-se e consubstanciar a obra, o empenho ativo, a participação do olhar do espectador. Em outras palavras, para voltar às formulações do autor de Revolução no Teatro.
Contexto Histórico:
1904- George Fuchs publica a cena do futuro, onde ataca o naturalismo, defendendo o princípio de que o teatro deve conservar o seu caráter de jogo, e que, como representação, não deve iludir o público, mostrando ser o que não é, mas afirma o caráter emocional da representação dramática.
1907- É construído em Munique, Alemanha, o Kunstler-Theater (Teatro dos Artistas) onde seriam colocadas em prática as idéias de George Fuchs
Importância para Cenografia:
Para Meyerhold a peça de Blok pareceu-lhe o veículo ideal para a exploração das idéias que ele estava desenvolvendo com base nos escritos de George Fuchs, o diretor do Teatro da Arte de Munique.
Em Diei Schaubuhne der Zukunft (O Palco do Futuro - 1904) e Die Revolution dês Theaters (A Revolução do Teatro - 1909), Fuchs juntou-se a Appia numa denúncia do “Teatro estereoscópico” dos naturalistas: o teatro jamais pode reproduzir efetivamente a natureza, diz ele, e a tendência do teatro para uma minuciosidade cada vez mais realista (como sucedia com a companhia alemã de Meininger) só chama a atenção para o fato de que, ”comparado à natureza, todo cenário é totalmente inverossímil, impossível e tolo”. Por isso as platéias ficaram cada vez mais desiludidas com o teatro e perderam o senso de encantamento, de festividade e, finalmente, de realização que o teatro originalmente lhes oferecia.
Para recobrar o perdido poder, o teatro deve renunciar à literatura e restaurar o ator numa posição de primazia. O cenário realista não só distrai como empurra o ator para as profundezas do palco, frustrando seu “impulso instintivo” de dirigir-se à platéia. Para conciliar esse impulso com a eficácia do teatro, Fuchs sugere o uso de um palco em relevo, com o ator perto do espectador, livre da caixa asfixiante do cenário e definido pela luz, que é “o mais importante fator no desenvolvimento do cenário”. A predominância da literatura restringiu a criatividade do ator e infelizmente colocou-o sob o controle do diretor, já que o ator precisa de um diretor para não ceder ao impulso teatral, o anseio criador que está em seu íntimo, para que ele cumpra a função, que lhe foi impingida, de ser uma ilustração ambulante do texto literário. Em vez de forçar o ator a submeter-se ao texto, o autor deve construir um texto baseado numa delicada compreensão das possibilidades de forma que são inerentes às personalidades dos intérpretes.
A influência dessas idéias é clara no ensaio de Meyerhold “O teatro naturalista e o teatro de humor (escrito em 1906 e publicado em 1908), que condena o teatro naturalista por não deixar nada à imaginação do espectador e por distraí-lo do ator, que deve sempre ser ”o principal elemento do teatro”.
A idéia do teatro de relevo e da proximidade ator-espectador também influenciou claramente suas produções para Komissarzhevskaya, mas, para ele o diretor era uma força muito mais positiva do que para Fuchs. Em 1908, ele contribuiu com um ensaio. ”O novo teatro prefigurado na literatura”, para uma coleção intitulada “Teatro: um livro sobre o novo teatro”, onde afirmava que o teatro deve empregar todos os meios para ajudar o ator a fundir sua alma com a do dramaturgo e revelá-la através da alma do diretor. A mudança é significativa, visto que o teatro de Meyerhold sempre refletiu sua própria visão.
Bibliografia:
- Dicionário do teatro;
- Teorias do teatro: estudo histórico-crítico dos Gregos à atualidade Por MARVIN A. CARLSON
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